Teorias interpretativas

São várias as teorias que tentam explicar o processo da aprendizagem, especialmente da aquisição e desenvolvimento da linguagem.

De entre estas destacam-se a perspectiva behaviorista, o inatismo linguístico e a teoria cognitivista.

Porém, antes de explicar cada uma delas torna-se necessário explicar o que é uma teoria. Uma teoria é uma tentativa credivel, fundamentada e cientifícamente  aceite de explicar fenómenos que nos rodeiam.

Aplicando o conceito de teoria ao fenómeno do desenvolvimento da linguagem, qualquer tentativa de explicação teórica, segundo Inês Sim-Sim, deverá ser capaz de:

  1. "Justificar a rapidez com que a criança adquire a linguagem;
  2. Explicar a compreensão e produção de sequências articulatórias por ela nunca ouvidas;
  3. Prever as alterações sistemáticas no comportamento linguístico da criança, em qualquer dos domínios (fonológico, semântico, sintáctico e pragmático.".1

Neste sentido, é de referir que o que distingue as diferentes teorias da aprendizagem são as explicações referentes ao que se adquire, como se adquire e porque se adquire.

 

A Teoria Behaviorista 

O grande impulsionador desta teoria foi o psicólogo americano Burrhus Frederic Skinner, que defendia o papel do reforço, positivo ou negativo, na aprendizagem.

 Na perspectiva behaviorista o desenvolvimento da linguagem é visto como o resultado de um acumolar de aprendizagens efectuadas, sendo que estas aprendizagens só são adquiridas quando se verifica a modificação de um comportamento.

Para os behavioristas as crianças aprendem por imitação, tendo neste sentido o meio em que estas estão inseridadas um papel crucial no desenvolvimento da linguagem. As aprendizagens adquiridas através da imitação, principalmente dos pais ou das pessoas mais próximas, estabilizam com a prática ou exercício, excluindo-se totalmente os factores genéticos e cognitivos.

 Neste seguimento, o desenvolvimento da linguagem é visto como uma progressão que vai da produção aleatória de sons à comunicação verbal estruturada, conseguida por meio da imitação.

 Os seguidores desta teoria elaboraram processos gerais para a aquisição de aprendizagens:

  • Condicionamento: processo básico de aprendizagem através da associação do estímulo (S) à resposta (R) respectiva.
  • Condicionamento Clássico: aprendizagem que consiste na associação de um estímulo condicionado a uma resposta.
  • Condicionamento Operante: aprendizagem baseada na associação do estímulo e da respectiva resposta a um reforço que gratifica ou pune.
  • Modelação: aprendizagem através da observação da actuação de outrém e dos respectivos resultados obtidos.

 De modo a justificar as suas convicções quanto ao desenvolvimento da linguagem, os behavoristas elaboraram quatro permissas:

  1. O facto dos comportamentos verbais fazerem parte do meio envolvente da criança.
  2. O facto de ela possuir impulsos cuja satisação ou insatisfação a fazem emitar sons vocálicos como o choro.
  3. O facto de ser capaz de associar as vocalizações a recompensas.
  4. O facto de ser capaz de generalizar e imitar comportamentos.

Em suma, "para Skinner e seguidores, a criança possui capacidades gerais de aprendizagem, não específicas para a linguagem, por eles considerada um comportamento de cariz verbal, modelado e reforçado pelos falantes adultos que privam com a criança e a quem ela imita."2 No entanto,"a imitação não é vista exclusivamente como uma cópia idêntica e imediata do original ouvido, podendo ser diferida e usada como moldura estrutural para situações gramaticais iguais."3

 

A Teoria do Inatismo Linguístico 

 Para os inatistas como Avram Noam Chomsky,linguísta americano, a aprendizagem acenta em programações genéticas e biológicas inerentes à condição humana, que permitem adquirir aprendizagens através de regularizações de regras de conhecimento retiradas do meio onde a criança está inserida. A aprendizagem é o resultado da maturação neurofisiológica, idêntica em todas as crianças.

Assim, o inatismo linguístico defende que a criança nasce com uma predisposição genética inata para adquirir a linguagem, o que se traduz na capacidade de extrair regras gramaticais do que ouve à sua volta. A esta capacidade Chomsky chamou Dispositivo para Aquisição da Linguagem (Language Acquisition Devise). O DAL contempla um conjunto de princípios gerais, geneticamente inscritos nos seres humanos, e procedimentos que permitem descobrir como estes se aplicam à lingua específica da comunidade onde a criança está inserida.

Segundo os inatistas, a criança adquire a língua a que está exposta por meio da observação daqueles que a rodeiam, sendo que depois a reconstrói, formando a sua própria gramática, e isto acontece com qualquer criança exposta a uma qualquer língua. Daqui advém a universalidade do processo de desenvolvimento da linguagem. 

Em suma, os inatistas defendem que "as crianças são expostas às produções linguísticas que o meio lhes oferece, a que se dá o nome de input linguístico. As crianças parecem formular hipóteses sobre as categorias e relações subjacentes à linguagem e testá-las através do seu uso, aplicando as regras extraídas a novos contextos. Tal só é possível porque a criança nasce preparada para especificamente tratar a informação linguística e formar as estruturas que são características da linguagem humana. A razão para tal especificidade só pode ser encontrada no equipamento biológico do ser humano e na evolução maturacional ao longo do crescimento da criança."4

 

A Teoria da Cognição

Piaget, um biólogo suiço, foi o principal mentor da perspectiva cognitiva, que preconiza que as crianças nascem com predisposições gerais que permitem o acesso à linguagem mas também determinam tudo o que se pode aprender, ou seja, que permitem perceber e interpretar o meio a que estão sujeitas.

 

 Para Piaget, a criança apropria-se daquilo que está ao seu redor, transforma-o em conhecimento que vai categorizar e relacionar com a língua. Assim, o desenvolvimento linguístico da criança depende da respectiva evolução cognitiva.

Mas o que é a cognição? "A cognição é pois um sistema complexo de processos interactivos (de acomodação/assimilação) que permite manipular, codificar e produzir informação. Da dialéctica entre estes dois tipos de processos resulta uma organização cognitiva de complexidade crescente, produto de construção e maturação gradual, que se inicia nas acções sensório-motoras e culmina ao nível operacional das acções inteiorizadas. (...) É assim, perante a informação linguística fornecida pelo meio, o cérebro a assimila às estruturas já existentes, enquanto que simultaneamente acomoda essas estruturas para permitir a inclusão de informação linguística nova. "5

Segundo Piaget, a cognição é uma forma específica da adaptação biológica indispensável às trocas entre um organismo complexo, ou seja a criança, e o meio envolvente, sendo que a adaptação, que é o equilíbrio entre as acções da criança e do meio é mantido graças à acomodação e à assimilação. 

  • Adaptação: tendência  de qualquer organismo para se adaptarem função do meio e que ocorre como o resultado de dois processos complementares: acomodação e assimilação.
  • Acomodação: processo de reorganização cognitiva das estruturas do organismo como resposta a um estímulo exterior e que resulta na apreensão dos atributos estruturais da informação proveniente desse estímulo.
  • Assimilação: processo através do qual o estímulo é incorporado nas estruturas cognitivas do sujeito, sendo deste modo interpretado pelo sujeito.

Ainda acresce referir que a interacção com o meio tem grande importância para os cognitivistas e que estes defendem a existência de determinadas fases sequencialmente fixas no desenvolvimento da aprendizagem.

Concluíndo, para os seguidores desta perspectiva, são as capacidades cognitivas que determinam a aquisição da linguagem.

 

 

1 Sim-Sim, Inês - Desenvolvimento da Linguagem (p.298); Universidade Aberta, Lisboa, 1998.

2 Sim-Sim, Inês - Desenvolvimento da Linguagem (p.300-301); Universidade Aberta, Lisboa, 1998.

3 Sim-Sim, Inês - Desenvolvimento da Linguagem (p.301); Universidade Aberta, Lisboa, 1998.

4 Sim-Sim, Inês - Desenvolvimento da Linguagem (p.302); Universidade Aberta, Lisboa, 1998.

5 Sim-Sim, Inês - Desenvolvimento da Linguagem (p.305); Universidade Aberta, Lisboa, 1998.


Anexos

Teoria Inatista

Ficha de Leitura.doc (105 kB)

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